2 de janeiro de 2014

Bom dia, eu sou Oficial de Justiça...

Há mais de 20 anos, todos os dias, várias vezes ao dia, encaro uma nova realidade, mais uma história se revela, e digo: "Bom dia, eu sou Oficial de Justiça".
Não importa o tom de voz que carrego de mel, pouco vale o sorriso e as roupas despretensiosas, coloridas, quase infantis. Deparo-me com um arregalar de olhos, um engolir em seco, uma ansiedade estampada, um susto ante o indesejado.
Venho carregar com o peso da realidade os duros problemas, as tristezas, a esperança castigada pela crueza da vida dos que vivem nas periferias, ao lado, afastados, bem longe dos olhos daqueles que sabem de tudo.
Conheço um mundo que a mídia, os livros e os filmes não conseguem retratar.
Tenho aí a opção do "profissionalismo", de ler e dar as costas, mas opto por acolher e oferecer os ouvidos, de esclarecer e orientar, de levar um pouco de carinho e cuidado àqueles que passam por toda uma vida de abandonos e friezas, de profissionalismos endurecidos.
Luto por ver transformar-se a frustração em força para uma nova luta, o medo em confiança, depressão em garra de seguir em frente. E ouço, e muito bem, as palavras que dedico a essas pessoas, e as uso como unguento para minhas próprias feridas.


Recebo, todos os dias, gotas do melhor e do pior do ser humano. E passo a fazer parte dessas histórias, ainda que apenas uma "ponta". E levo comigo histórias que jamais imaginei, lágrimas que me comoveram e sorrisos que me encorajaram. Trago comigo um pedaço de cada "ser humano" que para mim se revelou. Cada um desses pedaços, um retalho, que construiu, e continua construindo, uma filosofia que é só minha, que me ensinou muito sobre a vida e sobre o real significado das palavras "garra" e "esperança".

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